sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Vida ou Morte?

Lido com a morte quase todos os dias. Sou médica-veterinária e trabalho para salvar vidas muito preciosas para mim; mas apesar de todo o esforço em prol da saúde e dom bem-estar, muitas vezes algumas doenças são bem mais poderosas do que todas as armas das quais disponho para enfrentá-las.


Eu sou uma guerreira e minha luta é feroz. Enquanto há esperança eu batalho para manter os animais vivos e bem. Faço tudo o que posso, tudo. Mas há situações em que a morte vem devagar, mas ela é certa. Eu descubro que, diante de determinado mal eu não posso nada. E, nessas horas, o trajeto vagaroso da morte pode ser agonizante para quem a espera. Antes ela chegasse depressa e destruísse logo toda a dor e sofrimento. Mas aí também eu posso atuar: com a mesma bravura e coragem, presenteio o animal com sossego e paz. Sou a favor da eutanásia em casos bem específicos em que é sabido por certo que o paciente que padece sofre apenas à espera da morte. Que não há mesmo nada o que fazer. Que não existe mais esperanças e apenas aflição e medo. Acho que nesses casos tão particulares, apresentar a possibilidade de atenuar o sofrimento e acelerar o seu fim é uma forma de demonstração de amor. E porque eu amo já me deparei com essas situações algumas tantas vezes. Até mesmo com alguns dos meus mais amados bichinhos de estimação. Animais verdadeiramente queridos e que faziam parte da minha vida. E a eles eu ofereci a morte porque essa era a única forma de arrancar–lhes uma dor insuportável.


Se o mal não tem cura, se não há saúde ou qualidade de vida, se a doença é mais forte que qualquer tratamento, grito que sou a favor da eutanásia.


Mas cada dia que passa eu aprendo um pouco mais sobre a vida e a morte. Por mais que concordemos com a eutanásia e decidamos que ela é infelizmente a melhor (ou única) opção, pra quem ama é quase impossível decidir pela ida do ser amado. Não é fácil, por exemplo, desligar os aparelhos que mantêm uma vida tão preciosa. Em que momento é possível realmente verbalizar a frase definitiva “pode desligar os aparelhos”? Como fazer isso? As palavras não saem. Tudo o que se deseja é que alguém venha depressa e diga que há ainda uma chance! Há ainda um tratamento não tentado! Há uma possibilidade! Tudo ainda pode ficar bem! E, caso isso ocorresse, duvido que houvesse alguém que ama que fosse capaz de decidir pala eutanásia, sabendo simplesmente que existe esperança...


Geralmente essas situações já são tão programadas e pensadas e repensadas e estudadas e esclarecidas que ninguém vem correndo e gritando esperança alguma. É quando o impossível parece ser recomeçar sem alguém que esteve ao seu lado e que fez parte crucial da sua vida.