quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Uma conversa

Muitas pessoas participaram direta e ativamente da minha criação. No final das contas, a verdade é que eu tive muitos pais e muitas mães. Uns desses tantos pais que tive foram os meus avós. Agora, imagine: se a convivência entre pais e filhos pode ser tão complicada devido à distância e à divergência entre as gerações, o que dirá o convívio entre avós e neta? E se eu acrescentar que o meu avô é militar, rigoroso, forte e determinado? Será possível entender que grande (a maior) parte da minha vida foi vivida sob regras rígidas e inflexíveis. Ponto final.

Passei anos - desde muito nova, confesso - sonhando com uma liberdade que eu mesma desconhecia como seria. Mas eu a desejei intensamente e lutei com unhas e dentes por ela. Tempos delicados aqueles de luta.

O fato é que eu recebi o tão cobiçado prêmio pelo qual tanto lutei e me vi, enfim e felizmente, livre!

Passei a levar a minha vida de acordo com as minhas vontades. E apenas com as minhas vontades! Tudo agora deveria ser como eu bem queria!

Havia muito do que eu desejava fazer. Eu tinha inúmeros planos colecionados. E rigorosamente pretendia colocá-los todos em prática. As proibições de outrora eram agora consentidas por mim.

Entretanto, hoje eu enxergo um problema: se é verdade que eu me libertei do cárcere imposto pela minha educação severa, é também verdade que eu me aprisionei em outro que eu mesma construí pra mim, sem me dar conta disso.

Como eu havia dito, tudo deveria acontecer de acordo com o que eu desejava, dali em diante. E eu não pensava em permitir que fosse diferente. Assumi (ou tentei, na verdade) o domínio das coisas e descobri que tudo aquilo que fugia ao meu controle, me deixava decepcionada, irritada ou frustrada. Meus planos - dos mais simples e corriqueiros aos mais complexos - eram rígidos e inflexíveis (como eram aqueles aos quais um dia me sujeitei). Sem notar, boicotei muitos sonhos e experiências válidos pelo simples fato de eles não estarem seguindo integramente o caminho (reto) que eu havia traçado. Abri mão do que era “torto”, sem nem ao menos me permitir experimentá-lo. Me aprisionei. A maioria dos caminhos que percorremos ao longo da vida não são nem retos, nem perfeitos e nossas experiências, em geral, não saem exatamente como planejadas. Se eu abdicava disso, vivia de que? Desapontamentos, claro.

A maravilha da vida é que as pessoas estão sempre mudando. Essa é, sem dúvida, uma certeza: estamos em transformação o tempo todo. Hoje sou capaz de enxergar a prisão que eu construí pra mim e, sendo assim, sou também capaz de destruí-la! E que incrível prazer poder dizer que estou com minhas marretas em punho, com o coração acelerado e já me sinto livre de mim!

Hoje sinto uma vontade enorme de correr o mundo, de conhecer tudo, de saber das coisas, descobrir pessoas, visitar lugares, ler livros, explorar tudo o que a vida me oferece. Estou preparada para me entregar a experiências jamais vividas, "retas" ou "tortas".


4 comentários:

Bia disse...

muito bom ver vc assim... se redescobrindo, se tornando mais leve e mais feliz a cada dia!!! fico muito muito feliz!!

Lívia Dias disse...

É...

Estou numa fase boa de transformações muito positivas! E muito bem vindas!

E é muito bacana saber que há pessoas que se alegram com isso!

Lívia Dias disse...

Tava aqui pensando quem é Bia...
Agora que eu lembrei!!!
É vc, miguxa linda!!! rsrsrsrs

Rodrigo disse...

Quando uma criança apanha dos pais e estes dizem para ela que é por amor, o conceito deste fica deturpado. Quando se usa chantagens, coação, ameaça para se controlar alguém, mesmo que sob a roupagem de que é "porque eu te amo", a liberdade fica comprometida. Viva a liberdade de escolha, sem razão para se sentir pressionado e viva o conceder e ceder como uma forma de generosidade e não como sinal de fraqueza.