terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vem aqui, olha!

“Vô, vô, olha o que eu consigo fazer!
Tô vendo.
Não. Vem aqui, olha!

Ele é testemunha do que eu fui quando criança.
Ele me viu e me conheceu no esplendor da minha capacidade de ser eu mesma: criança, feliz, livre, solta... integrada com a natureza, curiosa, levada, feliz.
Repito, feliz! Como jamais poderei saber se conhecerei este estado de espírito de novo, com o mesmo vigor.

Ele me viu desabrochar para as coisas desconhecidas e não soube perceber quando eu estava me tornando uma mulher. Talvez fosse resistência em aceitar que a gente verdadeiramente cresce; talvez por excessiva proteção contra os fantasmas que estavam em sua cabeça; talvez apenas costume de ter as coisas em suas rédeas, sob seu controle.

E foram muitas as horas de amor e de ódio entre a gente. Afinal, esses dois sentimentos não são os lados de uma mesma moeda? E como saber o que era meu e o que era dele? E o pior, quanto disso tudo não se impregnou em mim mesma e hoje nem sei se vejo a fronteira entre o real e a fantasia?

O tempo faz essas coisas com a gente, nos desmancha. O que antes era claro e nítido torna-se impreciso. Memória de um sentir diferente que a gente guarda como um souvenir, uma entrada de sessão para um ótimo filme.

Quantas saudades de um tempo que não vai voltar mais.

Mas vou ainda repetir o mesmo diálogo, sempre:

“Vô, vô, olha o que eu consigo fazer!
Tô vendo.
Não. Vem aqui, olha!”



Texto de Rodrigo José Nunes Pinto, meu melhor amigo.



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