Reportagem de Sydney Gomes publicada no site http://www.otempo.com.br/videos/player/?v=2683, O Tempo Online, em 15 de julho.
Esse foi um dos ensaios gerais do espetáculo de dança Optempo, antes de sua estréia no teatro Sesiminas, em Belo Horizonte.
Aprendemos juntas. À medida que vou lendo e entendendo a matéria, vou explicando pra ela – que me escuta com atenção! Não vou mentir, às vezes ela se cansa e tira um cochilo. Mas esteja certo: se eu chamar, ela me atende prontamente. O bom dessa parceria é que podemos trocar idéias sobre o assunto estudado, ajudar uma à outra e relaxar juntas quando o cansaço chega.
De vez em quando ela se aborrece e resolve que devemos brincar um pouco. Tenta pegar minha caneta, morde a ponta da lapiseira e joga, sorrateira, a borracha no chão. E, se eu insisto em continuar estudando, ela se deita bem em cima do livro que estou lendo. Mas isso é bom senso, oras! Temos que saber dosar as coisas. Tudo em excesso faz mal! Estudo também!
Ela nunca se atrasa. Assim que eu abro a porta do escritório, ela vem ligeira e pontual cumprir o horário comigo. E, quando alcançamos a meta do dia, saímos as duas bem satisfeitas. É chegada a hora de descansar! Ela sempre ao meu lado, sempre minha companheira!
Esta música me faz pensar em você. Lembro-me do som tocando alto e de você com os olhos cerrados, apenas curtindo aquele seu momento. Instante de pura quietude. Você em sua própria companhia vivendo uma solidão repleta de paz e emoção.
A música soa e eu fico pensando por quanto tempo ainda terei sua imagem assim tão nítida visitando meus pensamentos. Mas o tempo vai acabar levando você para longe. Cada vez mais. E essa imagem pode ficar turva um dia.
Sua ausência me faz perceber que, cada dia que passar, mais ausências eu viverei. Mais faltas eu suportarei. E assim será até o dia em que eu mesma faltar.
Acabo de me lembrar de um texto de Rubem Alves que trata exatamente disso: a arte do nada fazer, um louvor à inutilidade. E ele sabiamente diz: “há uma forma suprema de felicidade que só podemos gozar quando nos entregamos à deliciosa irresponsabilidade da inutilidade”. Pretendo por pelo menos mais alguns dias me deixar envolver por esse precioso descanso. Logo serei confrontada pelos deveres, obrigações, horários, compromissos e metas que fatalmente voltarão a fazer parte dos meus dias.
Mas agora eu preciso de um tiquinho de paz.