Apresentação do samba "Oito Batutas" pela Cia. Incomodança de
Dança de Salão
Coreografia de Mauro Fernandes
Dançarinos: Bárbara "Bela", Helena Medeiros, Leonardo Falinassi,
Lívia Dias, Lucas Saldanha e Wallace Gomes
Eu não posso dizer que eu não tive um pai. Eu tive, sim. Um tão presente quanto um pai de verdade seria. Ou mais. Talvez mais.
Diz a minha mãe que quando eu era criancinha eu chamava o meu avô de vô-pai. Eu não me lembro disso. Mas, se era assim, desde muito nova eu já entendia o que meu avô significa pra mim.
Convivi com meu avô com a proximidade com que se convive com um pai. Foi ele que me ensinou a gostar de natureza, já que me levava para o sítio em sua companhia e na da vovó todo santo fim de semana. Aprendi a andar no mato, a mexer com bicho, a nadar em riacho, a curtir a natureza íntegra. Graças aos seus incentivos aprendi até a montar cavalo.
Vovô é muito bravo. Militar. Aprendi com ele a ser muito educada. A falar sem os vícios dos “palavrões”. Depois que eu cresci, eu desaprendi. Mas aí a responsabilidade é toda minha.
Quando eu era adolescente dizia pra vovó que ela tinha sorte de ter nascido numa época diferente da minha, caso contrário, eu daria um jeito de o vovô ser o meu marido e não o dela! Isso é porque eu o admiro muito. Sua beleza (ele é lindo!), sua força, inteligência e competência. Bem que eu queria um marido assim.
Já falei que devido à grande diferença de idade e à distância entre as nossas gerações, houve um tempo em que a nossa comunicação ficou muita falha. Um não conseguia entender o outro. Como conseqüência nós brigamos muito. Tivemos brigas muito sérias. A gente tentou, inclusive, se afastar. Eu confesso que quis romper relações no ápice da minha angústia. A angústia de ver meu avô – meu herói – sendo tão feroz comigo. Mas o tempo sara feridas. Ainda que restem cicatrizes, as feridas acabam parando de sangrar e de doer. O tempo colabora com o perdão. Apesar das falhas, dos desentendimentos e críticas e das decepções, nós nos perdoamos um dia. Nos reaproximamos. Que sorte!
Sempre amei o meu avô e hoje eu sei por que sofri tanto todas as vezes que nós brigamos. Sei também que mesmo quando eu quis me afastar foi por amar demais e, assim, sofrer demais.
Ele é um exemplo pra mim e, em muitos aspectos, quero ser como ele. Eu já sou muito parecida com ele. Quem nos conhece, sabe.
Menina de olhos grandes, atrevidos.
Às vezes tenho que lembrar-me do que lhe aconteceu para acreditar. Eu esqueço o tempo todo. E me assusto quando recordo.
Onde eu estava quando esses olhos perderam o brilho?
Menina de olhos pintados, arrogantes.
De tão menina que é, acha que é dona do mundo. Dona da verdade, dona de seu próprio destino. Desafia a tudo com seus olhos insolentes.
Onde eu estava que não percebi o risco que você corria?
Menina de olhos atentos, furiosos.
Olhos tão parecidos com os meus, um dia. Destemida, encara a vida com desdém. Como se jamais pudesse perder o jogo.
Onde eu estava que não lhe ensinei aquilo que já havia aprendido?
Menina de olhos tristes, sombrios.
Permite ser levada pelo vento e com ele vai. Esquece o caminho de casa e nem parece se importar. Vai para nunca mais voltar.
Onde eu estava que não lhe provei que as coisas podiam melhorar?